CEBs

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CEBs no Brasil: MEMÓRIA, PRESENTE E FUTURO. Estimadas equipes executivas do Intereclesial 13º recém-celebrado e do próximo 14º PAZ e BEM. Escrevo-lhes como amigo e irmão de caminhada. Antes de tudo, quero agradecer imensamente a equipe executiva da diocese de Crato-Juazeiro pela dedicação competente e gratuita em favor do Intereclesial 13º recém-celebrado, janeiro 2014. Não foi coisa pequena preparar e celebrar um evento deste tamanho. Parabéns! É sempre um grande dom poder participar e vivenciar um Intereclesial. Reencontrar irmãs e irmãos da caminhada, espalhados por esse imenso Brasil; partilhar alegrias, vitórias, preocupações e desafios são experiências gratificantes e enriquecedoras. Fazem a beleza do evento. Era bonito ver delegados das CEBs conversar com outros de outras regiões, se animando, cantando, acreditando. O povo das CEBs estava feliz. Pessoalmente fiquei muito alegre quando membros da equipe executiva, durante o Intereclesial, me disseram: “Luís, as Santas Missões Populares, que vivenciamos nos anos 2006-2009, nos capacitaram muitíssimo, no espírito e na prática, para enfrentar o desafio do Intereclesial. Viva as SMP!”. Que bom. O 13º Intereclesial mostrou, mais uma vez, que as CEBs estão vivas, apesar das muitas incompreensões, e até desprezo, que elas vêm sofrendo nos últimos 20 anos. Dá para pensar até em um milagre. Realmente, elas fazem parte do coração dos que acreditam em um Brasil melhor, mais justo, sem corrupção, mais honesto. Estão também no coração dos que desejam e querem a Igreja mais fiel ao seguimento de Jesus de Nazaré, nosso único Mestre e Senhor. Costumo resumir a caminhada das CEBs numa bela expressão de dom José Maria Pires, arcebispo emérito de João Pessoa, pastor, profeta e grande benfeitor das CEBs: “Podemos ter cometido erros por excesso de confiança, mas, graças a Deus, acertamos o caminho”. Santa verdade! Então, temos muitos motivos para dar glória a Trindade Santa, a melhor comunidade; e para agradecer as multidões de mulheres e homens que tanto lutaram e vem lutando pela continuidade das CEBs. Mas, tudo cem por cento? Claro que não. Antes, perguntas urgentes surgem no coração das pessoas que amam a caminhada das CEBs. Durante o Intereclesial, ouvindo os “gritos” que vem dos pobres, das etnias marginalizadas, da natureza ferida, das divisões sociais, das corrupções vergonhosas, das tensões e incompreensões dentro da Igreja; partilhando a caminhada das CEBs no Caldeirão, nos ranchos, nos chapéus (lugares de encontros no Intereclesial) e nos intervalos, vários delegados/as expressavam medos e duvidas, como: “Será que as nossas CEBs estão prontas para assumir com convicção profunda os desafios levantados?”. De fato, as CEBs andam abandonadas em muitíssimas paróquias e dioceses. Pode até existir o nome (e nem sempre isso), mas elas, com frequência, estão aí, entregues às baratas, sem espaço, sem tempo, sem estímulos, sem ajuda e sem oportunidades para avaliar, discernir, aprofundar, traçar planos. Aparecem como uma pastoral, uma atividade a mais na paróquia, quando deveriam ser a referência para todas as pastorais. É consequência da fratura grande entre o seguimento de Jesus de Nazaré e a organização das dioceses, das paróquias, até das reuniões e dos vários ‘cursos de atualização’. Vários participantes do Intereclesial foram mais para preencher vagas disponíveis, porque, em suas paróquias/ dioceses, não havia acompanhamento nenhum. Agora que o Intereclesial passou, é bom se perguntar: como está sendo a repercussão do Intereclesial lá na base das CEBs? Quais os chamados e os apelos estão sendo levantados nas CEBs a partir do Intereclesial? Há sempre o perigo dos Intereclesiais serem um belo evento, mas sem impacto criativo na caminhada das CEBs; há também o perigo de as CEBs se tornarem “clubes de amigos e amigas”, sem ardor missionário. Vivemos na ‘globalização da superficialidade’, cortando asas, matando sonhos bonitos. Todos nós respiramos este ar contaminado, com o grande perigo de ficarmos intoxicados, doentes, perdidos, inclusive padres e bispos. Os mesmos subsídios preciosos a serviço das CEBs (Documento de Aparecida, diretrizes da CNBB, algumas outras publicações interessantes) estão parados nas livrarias, nas gavetas das coordenações pastorais; seus conteúdos não chegam ao povo. Haveria que refletir sobre os por que disso. Atualmente, o que chega de bom ao povo das CEBs, lá na base, através das mídias, são as posturas, os gestos e as palavras animadoras de papa Francisco. Ainda bem. Que alegria! Cremos (pois são muitos que sentem isso) seja urgente uma palmada de animo, de dignidade. O tempo é propício. Após tantos fracassos pastorais, as CEBs estão recuperando simpatia e estima. Fala-se cada vez mais de “paróquia rede de comunidades”; isso é possível graças à experiência da caminhada das CEBs de muitos anos. As CEBs aparecem sempre mais como a maneira mais autentica de ser Igreja hoje. Bem entendidas e bem acompanhadas, elas podem ser a solução de muitos problemas da Igreja e também da sociedade, se olharmos sem preconceitos e captarmos os grandes anseios presentes na humanidade inteira e nas pessoas. Mas é preciso que as CEBs entrem em um belo e forte processo de conversão, sem ficar se queixando. Precisam avançar mais na espiritualidade do seguimento de Jesus de Nazaré; precisam crescer juntas, com docilidade interior, na verdadeira comunhão eclesial, que não se dá ao redor de leis e de normas, mas no discipulado de Jesus, vivido hoje com criatividade e fidelidade. É preciso que as CEBs saiam de uma visão de ‘clube’, que rompam todo tipo de ‘panelinhas’, como tanto insiste papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Alegria do Evangelho, 49). É tempo de gritar com a vida: “CEBs em missão!”. Como ainda lembra papa Francisco: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isto estou neste mundo. É preciso nos considerar como que marcados a fogo por essa missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (Alegria do Evangelho, 273). Diante disso, permito-me dar algumas sugestões à nova equipe de Londrina, encarregada de preparar o 14º Intereclesial: 1) Manter a ligação entre a caminhada cotidiana das CEBs e o Intereclesial. Sem essa ligação, o Intereclesial cai no perigo de se tornar um grande evento, sem repercussão na vida das comunidades. 2) Abrir um site das CEBs sob a direção da equipe executiva de Londrina 3) O site seja lugar de partilhas, de experiências, de comunicações, de noticias. O site ofereça textos de aprofundamento sobre o ser CEBs hoje. Que se possa chegar a alguns pontos inegociáveis para ser CEBs. Para construir, juntos, o perfil das CEBs. 4) Fazer o possível para que o assunto CEBs entre na agenda das dioceses, das paróquias. Promover uma boa reflexão antropológica, sociológica, bíblica, teológica, pastoral sobre a centralidade das CEBs na pastoral hoje. Elas não são um luxo, mas o coração de toda a pastoral. 5) Superar, com urgência, a perigosa dicotomia existente entre a pessoa e a missão de Jesus de Nazaré e o ser Igreja. O mistério trinitário não deve ser visto como objeto de devoção ou assunto de espiritualidade religiosa; deve ser o sentido, a referência, o paradigma inegociável do ser cristão hoje: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus” (Fl 2,5). 6) Em sintonia com a executiva nacional, criar, apoiar equipes regionais de CEBs, para servir às CEBs do Regional. 7) Promover seminários sobre CEBs nos institutos de teologia, nas casas de formação, nas dioceses. Realizar romarias estaduais das CEBs, com aquela animação e capacidade de atração, típica das CEBs 8) Cultivar a comunhão eclesial. É processo dinâmico, que exige conversão permanente, humilde e esperançosa. 9) Incentivar a proposta de “CEBs EM MISSÃO”. Revisitar todas as pessoas que já participaram das CEBs. Através de teatros, depoimentos, fazer a memória das CEBs, para iluminar o presente e planejar a caminhada das CEBs. Melhorar a espiritualidade e a organização das CEBs. 10) Um ano e meio antes do Intereclesial, promover um tempo especial de missão para todas as CEBs do Brasil, cada uma em seu território, promovendo intercâmbios enriquecedores. Os delegados ao próximo Intereclesial deverão ser escolhidos, de maneira bem participativa, entre os que participaram intensamente do projeto “CEBs em missão”. 11) Outras preciosas sugestões surgirão… À equipe executiva do próximo Intereclesial, que acontecerá na arquidiocese de Londrina (PR), cabe a bela tarefa de fazer crescer ainda mais, em qualidade e quantidade, a beleza da caminhada das CEBs nas encruzilhadas históricas do nosso país e da América Latina. Bom trabalho. Pe. Luis Mosconi